2009/11/09

Erosão da Liberdade

    Assusta-me e ao mesmo tempo impressiona-me ver a gradativa perda de pequenos alicerces que sustentam, talvez, um dos poucos motivos que valha a pena lutar: o direito de ser livre.
    Dia após dia vejo pessoas abrindo mão de sua escolhas físicas e psicológicas para aceitarem assim seguirem caminhos prontos, catalogados e "aprovados" da sociedade.
    Desta forma velada pouco a pouco nos tornamos seres sem escolhas que somente fazem o que se deve e é permitido fazer.
    A liberdade não está sendo removida pela proibição do direito de fazer, mas sim pela remoção das escolhas em si.
    E as pessoas, em uma reação assustadora, estão aceitando bem tais emoções e simplesmente limitando cada dia mais suas mentes e universos.    
    A panela está esquentando, e a pressão aumentando... Quanto tempo mais o mundo vai tolerar ser preso e infeliz? Provavelmente alguém vai ter que morrer para tal carga detonar.... ou alguéns.
    
   

2009/10/13

Era como uma flor frágil, delicada e sensível. Minhas mãos tocavam sua pele e seu corpo respondia com espasmos, calafrios que gradativamente a possuíam, enquanto calores misturavam-se confusamente em  seu colo.
As distâncias entre meu ser e tão refinada anima eram cada vez menores mas, a cada momento, percebia seu medo a levar psicodelicamente  para longe de mim... a proximidade e a distância assim como o desejo e o medo em um só corpo.

2009/09/30

Ensaio...

Sei não, a vida não tem graça sem uma paixão. (Sim, concordo, é quase tão brega quanto rimar flor com amor. )

    Dias de um escritor, até certo ponto, podem ser muito tediosos. Você para algumas horas para ler algo interessante, dedica mais outras horas para escrever algo interessante e no entremeio toma uma cerveja com alguma amigo ou com aquela sua vizinha assanhada.

    Essa era a rotina corriqueira que Haroldo costuma, eventualmente, ter. Mas alguns solavancos que realmente o faziam escrever algo que realmente prestasse e não essas crônicas de fim de semana.

    Ontem, lá pelas sete horas, o sol tinha acabado de se despedir com seus últimos raios e ele pensava com meus botões o que iria acontecer em mais uma noite da sua vida enquanto olhava sua caixa de correio. Muita gente não pensa tal tipo devaneio, simplesmente vive mais uma noite na vida e pronto. Haroldo todavia nunca teve muita aptidão para "mais uma noite", o que fazia dele um forte candidato a nunca ter "mais um dia" como o que frequentemente acontece.

    E aquela noite começou com um convite, muito peculiar, enviado em um envelope vermelho com mosaicos pretos, encontrado em sua caixa de correio logo abaixo de sua conta telefônica.

    _Propaganda de natal? - Conversava ele consigo mesmo enquanto abria o convite sem remetente. Talvez julho fosse um pouco cedo demais para isso... Contudo, antes sequer de sentir a bobagem que disse, seus pensamentos foram tomados por outras idéias...

...Continua


2009/09/24

Quanto mais corria mais próximo ele se sentia. A fuga era inútil e desesperada. Seus pensamentos consistiam somente em faces sobre pontos de vista diferentes. Talvez estivesse estimando algo que nunca haveria de existir, talvez estivesse vivendo algo que nunca chegou a existir. Eram poucas opções ao seu dispor e, assim, escolheu o mais sensato: para e olhar para dentro de si mesmo.

2009/09/15

    "Become unpredictable [...]   let your moves flow out of your individual essence. [...] The moves created from your own individual unique essence may suprise even you." -
Sword Master, Afro Samurai

    "Torne-se imprevisível [...] deixe seus movimentos fluírem para fora de sua essência individual. [...] 
Os movimentos criados a partir de sua própria essência individual e única podem surpreender até mesmo você."

Sword Master, Afro Samurai

....................

    Naquela noite ela não pretendia dançar. Por alguma razão, pouco conhecida até por ela mesma, estava se sentindo um tanto quanto frustada com a dança. Era como se finalmente conhecesse todas as cartas do baralho: formas, ordens, cores e maneiras de serem distribuídas.
   
    Entretanto, um grande vão existia entre a sua destreza e o brilho de uma verdadeira dançarina. Algo faltava, não estava no seu lugar ou não estava sendo bem aplicado. Era como se somente "conhecer" a dança não fosse suficiente. Sentia-se repetitiva, fosca... entediada.

    Mas a sua perseverança em acreditar que algo fora do previsto pode sempre acontecer a fazia, por mais desmotivada que estivesse, procurar mais um baile para dançar. Talvez sua próxima dança poderia mudar a sua vida. Contudo, como previsto que não seria esperado, não foi exatamente a dança que mudou sua vida.

    Ela chegou. O salão estava um tanto quanto mais escura que o normal. Alguns desenhos brancos de casais reluziam por causa da luz negra compondo uma apresentação mais intimista a casa. Uma casa intimista cheia de pessoas tímidas - pensava a jovem dançarina.
    Os minutos corriam enquanto ali, sentada em uma mesa próxima a pista, observava os pares e seus movimentos. A maioria dos homens com os quais poderia dançar se encaixavam em um repetitivo e massante padrão que era a última experiência que ela procurava.
    Nesse instante, perdida em suas observações pessimistas, ela escuta uma voz enquanto uma figura surge em pé ao seu lado e lhe estende a mão: 

    _ Oi, vem dançar!

    Três fatores muito diferentes naquele momento que a trouxe de volta ao mundo real estavam evidentes: primeiro era que simplesmente não conhecia o sujeito moreno de olhos castanhos e expressão obscura em sua frente, segundo aquilo não era um convite, pedido ou chamado, mas sim uma afirmação! E terceiro a postura, o olhar, a forma... a linguagem que seu corpo usava, e o que dizia, era sutil mas penetrava com profundidade.

    Diante daquela situação era impossível recusar. Sua curiosidade a mataria ao menos pelo resto da noite. Sem dizer qualquer palavra ela se levanta e o acompanha até o meio do salão. Ao chegarem era exatamente antes de uma nova música começar Um silêncio, que geralmente não dura mais de cinco segundos, parecia se extender por minutos em sua cabeça enquanto que, parado diante dela, seu misterioso parceiro de dança a segura e diz:

_ O que você acha de tirarmos essa dançarina de dentro de você hoje?
_ Bem, acredito que ela esteja bem viva aqui na sua frente.
_ Eu também a vejo, sim, mas em um ponto bem mais profundo.


    Aquela conversa com proximidade corporal, cheia de olhares e expressões, podia continuar durante toda a noite. Mas a música começou e havia uma dança para viver.

    Logo a princípio ela percebeu que tratava-se de um cavalheiro cuidadoso e progressista. Em resumo, ele iria sentir sua dançarina e tentar perceber até onde poderia chegar com ela. E, de certa forma, assim foi acontecendo. Pouco a pouco, enquanto a dança se desenrolava sem qualquer fator diferente, a complexidade dos movimentos do casal aumentava.
   
    Em certo momento, em uma pausa da percussão, seu condutor para acompanhando o fluxo e contexto da música. Ela, acompanhando com leveza sua condução, para com braços esticados horizontalmente, esquerdo mais alto que o direito, na frente de seu par, de costas para ele, e rente ao  seu corpo.

    Naquele instante uma voz veio ao seu ouvido. Não sabia ao certo se era a voz do seu misterioso par ou se simplesmente escutou algo dentro de sua cabeça. Se tivesse bebido alguma coisa a mais já acharia que estaria escutando coisas. Independente de onde veio, aquela frase reverberou em sua cabeça:

_ Entenda: dançar é se permitir sentir Liberte seu corpo das amarras de sua mente e o deixe livre para ser viver. Permita-se sentir, e fazer sentir, seu companheiro e seus movimentos como nuvens se formarão por si sós: sempre diferentes ainda que sempre nuvens.

    E, como todo instante e toda pausa de qualquer música, aquele momento passou. A dança continuou e o casal continuou a movimentar-se. Mas ela não mais dançava. Alias, ela havia entendido ali naquela música o que era dançar de verdade.

    Calor, cheiros, tensões, olhos, sons, pulsões, toques, provocações, sorrisos e breves paixões. Ela entendeu, quase como uma iluminação, que aprender a dançar era no fundo aprender a permitir-se viver intensidades com alguém ao invés de somente estar presente.

    E a música terminou. Ela parou um pouco deslumbrada, surpresa, confusa, realizada... perdida em uma miríade de sentimentos. Olhou para a face de seu par, como quem espera algo que justifique todo aquele acontecimento. Ele a observou, sorriu e a beijou na face enquanto dizia:

 _ Maravilhoso! Fico muito feliz em ter o privilégio de sentir a mulher que você verdadeiramente é. Espero que tenha à feito tão feliz quanto me fez nesta dança.

    Logo após ela o viu virar-se e andar pelo salão enquanto seu olhar o perdia em meio a outras pessoas quaisquer. Ela nunca mais o viu, sequer sabe seu nome, mas daquele dia até os últimos de sua vida o brilho de sua dança nunca foi tão intenso e incomparável a qualquer pessoa que conheci em toda a minha vida.




    
 



2009/09/08

"Não hesite em enfrentar os mais difíceis problemas"

    Impressiona-me a cada vez maior restrição a felicidade no mundo moderno. Só se pode ser feliz "das formas permitidas, aprovadas e controladas." A cada dia que passa os caminhos para felicidade são menores, as pessoas encontram-se menos e se taxam mais. Sim, taxam, rotulam, categorizam, indexam e arquivam umas as outras. Em breve você só poderá andar na calçada com a mão direita para o lado da pista. Uma calçada para ir e outra para voltar. E assim, nas teorias aparentemente "lógicas e inúteis",  o ser humano restringe cada vez mais sua capacidade de viver para apenas estar.

Me desculpem, este texto não é um ensaio mas sim somente um desabafo. Boa sorte amanhã e não usem camisas pelo avesso. Eu tenho um livro para escrever.

2009/08/31

"It is a rough road that leads to the heights of greatness. - Esburacada é a estrada que leva a mais alta grandeza." - Star Wars: The Clone Wars

   
    Já são três horas da manhã. A chuva definitivamente não vai cessar, a noite parece nunca acabar e talvez o dia de amanhã não chegue para mim. A esperança de alguma ajuda deveria ser o último pensamento à se perder... contudo parece próxima a saída deste último fio de minha mente. Talvez por este acompanhar a saída do último fio de vida do meu corpo.
    Não tenho mais medo do que pode vir ou, talvez, não vir. Se amanhã tudo acabar, terei feito minha obra. Se amanhã a vida continuar, estarei seguindo meu caminho. O medo não persegue mais a minha mente e, assim, torna-me mais suscetível a morte.
...
    Seis horas depois do desmoronamento Carlos foi encontrado vivo. Seus relatos são suficientes para escrever todo um livro. Para ele, aquelas seis horas foram suficientes para preencher por vários anos toda a sua vida.

2009/08/24

Hoje vou publicar algo diferente: um trecho de uma longa conversa sobre volúpia corporal minha com um amigo meu. Apreciem com moderação.


Diogo,

    "Eu sou um devoto do dharma, e um seguidor do Buda
Shakyamuni. Dentro do ensinamento dele, ele deixou claro que nossa
mente não é dimensionada para experimentar a realidade como na
realidade costuma experimentar, e por isso sofremos muito.

    O que ele quis dizer é que sexo não é problema, que o contato e a
experiencia corporal não é errado. Mas pensar que o corpo, elemento
transitório e impermanente é fonte de felicidade e sabedoria duradouras
é pensar que uma labareba na palha pode aquecer para sempre. Antes,
ensinava ele, é preciso se desvencilhar dos apegos e da sensualidade
excessiva para desfrutar da real vivência do amor. E sim, preguem o que
pregarem, amor existe e sexo deve fazer parte do pacote. Eu vivo
errado, pois vivo na outra margem e contrario ao ensinamento que me
propus a seguir ao fazer isso, mas sei que o faço por ignorância, e
principalmente por ignorância da falta de autoconhecimento. Repudia a
qualquer coisa constitui tb um apego ao qual renunciar, entende? E esta
repúdia ao calor humano eu devo vencê-la, pois não se vive sem calor e
amor.

    Se você me perguntar hoje, o que penso de fato sobre a experiencia
corporal eu diria "Não sei, Diogo...", pois pensaria que "Não sei de
fato o que é o corpo... onde ele começa e termina, onde ele traz
experiencias e como traz...", e concluiria "preciso aprender isso...".

    Sei que você diria "comece deixando de ser teimoso..." e eu diria "preciso me conhecer melhor, e estou me esforçando..."
    Porque no fim, também quero ser feliz. Mesmo que eu ainda não saiba o que signifique "ser feliz"."

2009/08/17

    Impressionava-me como as pessoas insistiam em reparar a velocidade do tempo. Hoje a noite foi rápida, nossa tarde está demorando, que manhã lenta... e assim iam os pensamentos perseverantes do povo em medir a passagem do tempo levados pela intensidade de seus sentidos.

    Em fim, rápido ou não o nascer do sol não poderia ser mais surpreendente hoje. Talvez este seja o ducentésimo que vejo este ano, contudo, ainda é surpreendente.
    Os tons de vermelho e dourado misturando-se aos montes no horizonte, as sombras como o fim de um manto escorrendo e desaparecendo na presença do portador de toda energia que prove vida e, por fim mas não menos importante, um insignificante eu sentado em uma pedra fumando um cigarro.

    Geralmente vivemos muitas noites durante a vida, muitos dias e muitas tardes. E geralmente também desfrutamos muito pouco dos mesmos dias, tardes e noites. Talvez por não saber como desfrutar, por não querer, por não conseguir, por não poder... e assim gastamos mais tempo reclamando do que não fazemos do que realmente procurando fazer algo.
 
    Tenho quarenta e sete anos e, proporcional a minha idade, vi poucos nasceres de sol. Entretanto os desejei, busquei e vi; mesmo que para isso tivesse que abrir mão de muitos pores de sol.

2009/08/12

"I came to deliver bad luck to you! - Eu vim para entregar má sorte a você!"
Black Cat

    Talvez, somente talvez, aquele poderia realmente ser um dia de má sorte para Laura, se ela realmente acreditasse em sorte. Para ela uma seqüência de acontecimentos desagradáveis é somente uma seqüência de escolhas erradas. Certamente muitas dessas escolhas podiam não acontecer na sua vida, ela pensava, mas na vida de pessoas que iriam fazer diferença no desenrolar dos fatos. Em fim, ela não acreditava ter pleno domínio dos acontecimentos mas também não acreditava em coincidências, sorte ou azar.
    No entanto a sua seqüência de escolhas, dizendo em sua forma de pensar, naquele dia realmente foi um desastre. O salto alto quebrado ao descer do carro, sorvete derramado na jaqueta, lente de contato caindo no ralo... e, quem sabe, muita pimenta na comida em um dia com afta possa ser incluído nessa lista.
    Laura conseguiu voltar para casa, sem nenhum arranhão, e, espetacularmente, sem desejar o fim do dia, ou do mundo, como a maioria das pessoas faz.
    Abriu a janela do quarto, observou uma lua mais brilhante que o normal e repentinamente decidiu ligar para seu vizinho do andar de cima.
    _ João, tudo bem por ai?
    _ Tudo La. Estava aqui vendo a lua e pensando que dia vamos tomar aquele vinho.
    _ Bem, se puder ser hoje eu iria adorar.
    _ Então eu te vejo daqui quarenta minutos ok?
    _ Ok, beijos.
    Nesse momento, ao desligar o telefone, ela para e olha uma mensagem do dia de seu calendário: "humor não é estado de espírito mas sim um ponto de vista". Então enquanto pensava em qual lingerie iria usar ela ria sozinha ao retomar a confiança em suas decisões.
    E assim terminou o quase, somente quase, dia de azar de Laura.

2009/08/06


    O texto abaixo é uma brincadeira, um conjunto de impressões retiradas de algumas apresentações vistas em uma noite na academia Pé-de-Valsa. Foi uma experiência divertida. Se fosse um quadro, provavelmente seria um horizonte com o sol e a lua.

...

    Tudo era silêncio. Tensões e fluxos de calor passavam de uma forma peculiar. O destino mostrou-me um momento diferenciado.
    Ali, enquanto estava sentado, aguardava acontecimentos que não sabia como seriam. Começava a brotar de minha cabeça pelos meus ouvidos, como bolhas de sabão, pequenas pessoas de aparências diferentes. Eram manifestações de minhas percepções.
    Uns pareciam mais como observadores comuns, outros mais cômicos e com formas desproporcionais e ainda alguns como personagens clássicos do mundo: o malandro, o dançarino ou o garçom.
    E, enquanto tranquilo aguardava, tais entes diversos já fofocavam opiniões em meus ouvidos como diabos e anjinhos particulares.
    Repentinamente, luzes surgiram como velas em minha frente: o brilho do seu corpo ondulava com o calor dos pensamentos.
    _Quem é você corpo tremeluzente que paira como uma chama diante de mim?
    _Eu sou o dissipar da paixão e o sopitar da alegria que brotam na escuridão da noite. - Assim narravam meus sentidos companheiros e perceptivos em meus ombros.
    _Alegria!
    A felicidade transformara-se em um olhar malandro do homem e sua expressão no samba.
    _Ei, vê? Ai está a verdadeira malandragem que fomenta a felicidade de viver a dois.
    _Mas eu sou mineiro rapaz! E minha felicidade a dois não é malandragem mas a pureza do desejo que surge no primeiro olhar.
    No meio daquela discussão ferrenha percebi algo que até então não sabia: opiniões da consciência podiam ter diversas personalidades.
    _Mas o amor de verdade não são somente corpos ardentes. O amor de verdade vive sozinho, transpira e morre como o orvalho da manhã.
    _Contudo o poder da serpente e a sedução da alma é algo real e concreto. Quem você ama é, quem você quer é, respostas que nem sempre andam acompanhadas.
    _Eu sou a mulher de verdade, a dama do samba que rouba seu coração. Não me importa a quem você pertence, eu te desejo e por isto vou te ter!
    Agora sim tinha certeza, ali, sentado na mesa, que minha cabeça havia virado um botequim! Para de mineiro a carioca, santas a peruas, opinarem ao mesmo tempo naquele interim eu realmente deveria estar em alguma cafeteria underground ou aquele show que presenciava ligou alguma chave distante em minha cabeça.
    _Sim, você é meu. Com poucos traços em poucas curvas, conquisto todos os pensamentos de sua mente. Não vai amar, desejar ou pensar em mais nada ou ninguém. Somente eu e meu calor, o seu espírito vai sentir, Fecha os olhos e entra no paraíso.
    _Não mulher, o amor real é único e eterno. Seja através do tempo ou do destino, seja o encontro incomum ou insólito, o meu amor real sempre será por você.
    Cansado de tal caótica discussão guardei meu caderno de anotações no bolso e, junto com o desaparecimento dele, todas aquelas visões apagaram-se ao redor de mim. Certamente era mais seguro e tranqüilo viver somente com a minha mais sincera percepção e opinião. Qual ela era? Ah, isso fica para ser contado outro dia.


    

2009/07/27

Mais um ensaio

Quem é você que surge repentinamente pela neblina com traços tão simples e formas tão limpas. Quem é você que brota junto com a lua durante a noite e toma conta do céu ofuscando outras estrelas. Porque apareceu tão de repente? Onde estavam meus ouvidos e onde apontavam meus olhos para não perceber sua presença? São muitas perguntas e na verdade uma simples resposta: você sempre esteve ali, na minha frente, em meu palco a brilhar. Meus olhos que não enxergavam, ouvidos não escutavam e minha pele não podia sentir o suave e intenso calor de seu corpo.


2009/07/06

Mais um quadro escrito (ensaio)

Figura curiosa. Compridos cabelos loiros e rebeldes. A face do desejo permanece constantemente. Perdida...
Misturadas, a vontade de realizar o prazer e a admiração. Admiração pela estátua, pintura, homem e ser que permanece em sua frente.
Ela é uma amante, repleta de calor, perdida nos sentimentos de desejo e bem querer.



love by Arlek-in

2009/05/13

Lábios

-Realmente faz diferença.
-Mas, convenhamos, podia ser mais ousado.
-Sim, certamente.

[..]

    A conversa fluía em meio a observações inevitáveis. Melhor, uma observação: o movimento de seus lábios. A Leveza, encanto, brilho e fascínio gerado pelo doce fluir de suas palavras através de sua boca era inimaginável. E, sem dúvida, os grandes responsáveis eram seus lábios.

    Existem muitos fatores que contribuem para a beleza e é triste como frequentemente não os percebemos nos outros e em nós mesmos. Sejam eles físicos ou intelectuais...

-Nunca tive uma noite como esta.
-E eu nunca tive tão agradável companhia...
    


lips by biripbop


2009/05/05


    Não existe coração de ser humano que não possa ser mudado. Com balançar infinito e incompreensível do barco da vida somos, constantemente, jogados da proa a poupa. E, assim, só nos resta viver e conhecer.

    O conhecimento, minúsculo e insignificante, dos mundos e pessoas ao nosso redor pode nos fazer suficiente estáveis para que, mesmo com o ondular da viagem, sejamos capazes de contemplar o mar e seus horizontes.

    Outros escolhem pela segurança do interior de um barril. Quente, húmido, escuro e limitado. Viver como uma criança no ventre. Presos em seus barris vários de nós atravessam a vida sem viver. E, frequentemente, não descem do barco e só acordam no mesmo ponto de partida de quando entraram.

    Infelizmente não posso julgar a mim mesmo e consequentemente sou incapaz de saber se vejo um mar de águas profundas ou mais um barril escuro. Entretanto, uma visão sempre me conforta: gaivotas ao por do sol.


http://clintjcl.files.wordpress.com/2006/12/delme-thecount.jpg
O Conde de Montecristo - GONZO

2009/03/09

Alegro alegríssimo

Desejo tocar todo o seu leito e fazer de ti o jardim do meu ser. Procuro fazer brotar em ti a mais bela sinfonia onde a emoção seja peça mínima dentre todos os atributos tocados dos espectadores. Irei buscar a melhor nota, melhor toque e mais profunda melodia. E, após tudo, meus dedos nunca mais tocarão em nada ou ninguém. Neles preservarei o divino suor de tua pelo que escorria junto ao meu.



Mornign Sonata

2009/02/10


    Já faz um tempo que não olho para você, que não a encaro  mesmo assim sem te ver, não admiro os pequenos detalhes, quase secretos, escondidos em cada tela nas quais se apresenta.
    Sim, há muito tempo não procuro sequer lhe encontrar rapidamente em um canto de olhar. Não a vejo pela janela ou nos caminhos cotidianos.
    Sei que está ali, bem perto de mim, e eventualmente passa em minha frente sem que eu perceba.
    Mas, não vou me esforçar. Esteja onde estiver, se um dia a vontade voltar, para ti minha sombra eu irei olhar.



Shadown - by Don Paolo